2024-10-10 21:35:37.0

Ciência UFPR: A luta antimanicomial na vida e nos estudos da pesquisadora Fabiane Valmore

Neste Dia Mundial da Saúde Mental (10/10), pesquisadora e ativista de Curitiba fala sobre seus estudos com os artistas da saúde mental e sobre as dificuldades de trazer a visão dos usuários da rede de saúde mental para as políticas públicas

Não foram convencionais os itinerários de pesquisa de Fabiane Helene Valmore, socióloga e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Talvez porque o estudo tenha assumido o papel de via da sua própria vida pessoal, interligado a ela. Nos últimos dez anos, Valmore enfrentou sofrimento psíquico intenso, construiu sua aproximação com o movimento antimanicomial e deu voz aos chamados “artistas da saúde mental” na monografia defendida no Departamento de Sociologia da UFPR em 2021 — sua terceira graduação.

Desde a década de 1950, quando a médica psiquiatra Nise da Silveira fundou o Museu de Imagens do Inconsciente, o termo “artistas da saúde mental” é um dos usados para designar quem se expressa pela arte como forma de psicoterapia. Para quem a vivencia, é uma dinâmica que começa terapêutica e pode terminar como forte afirmação de identidade.

A arte libertou o cotidiano de muitos dos entrevistados de Valmore. Tirou-os do histórico de internamento — nas diferentes versões de hospício que existem — e os alçou a degraus célebres na sociedade. São músicos com álbuns lançados, pintores com exposições agendadas, dançarinos famosos do Carnaval carioca.

Eles dizem que a arte traz autoconhecimento e cria ligações comunitárias salvadoras. Não traz, porém, sustento. É essa lacuna que justifica uma crítica da pesquisadora, direcionada às metas da militância e das políticas públicas. “A arte faz muito, mas não é verdadeiramente empoderadora. [As instituições] Não gostam que fale isso, mas é a verdade”, avalia ela, hoje amiga de muitos desses artistas.

Fato é que o objeto de estudo é hoje parte substancial da vida de Valmore, que continua buscando dar voz aos usuários da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Idealizou e organizou a 1ª Conferência Livre Nacional de Usuários da RAPS, que ocorreu em maio de 2023, em Brasília, durante a 17ª Conferência Nacional de Saúde.

Também faz parte do pequeno grupo de estudiosos e líderes comunitários que tentam dar alguma chance ao tema da reforma psiquiátrica na capital paranaense.

Professora de mecânica na rede pública estadual há mais de 20 anos, ela criou recentemente um clube de ciências sobre saúde mental no Colégio Estadual Rodolpho Zaninelli (CERZ), por meio de edital da Rede de Clubes de Ciência da Fundação Araucária. O CERZ está localizado no bairro Cidade Industrial de Curitiba (CIC) — um dos maiores e com mais problemas sociais do município.

Nesta entrevista à Ciência UFPR, concedida parte pessoalmente e parte por e-mail, Valmore fala sobre a sua pesquisa, sobre a sua própria experiência com os equipamentos de saúde mental de Curitiba e do Rio, e sobre o seu ativismo.

A entrevista é intercalada com trechos em áudio e com galeria de fotos dos entrevistados por Valmore na sua monografia.

Leia a entrevista completa, com áudios e galeria de fotos, no site da Ciência UFPR: https://ciencia.ufpr.br/portal/o-que-o-mundo-conhece-da-existencia-objetiva-de-pessoas-que-de-dentro-da-dor-psiquica-fazem-nascer-a-poesia-fabiane-valmore

Foto de destaque: Marcos Solivan/Sucom UFPR

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